sexta-feira, 2 de maio de 2014

O estudo bíblico

É necessário estudar a Bíblia?
Como costuma acontecer com qualquer matéria sobre a qual conhecemos pouco ou nada, o estudo dela nos informará e ilustrará, nos salvará de possíveis erros de julgamento e nos ajudará a compreender a matéria em questão. A grande maioria dos "problemas" que surgem em torno da Bíblia, as interpretações ingênuas, até os escândalos diante de certas afirmações feitas por estudiosos da Bíblia, têm sua raiz, nem mais nem menos, em uma deficiente compreensão da natureza mesma da Bíblia. A ideia que temos da Bíblia como tal reflete na maneira como entendemos e explicamos qualquer passagem dela. É notório que em muitos grupos fundamentalistas se recusam a estudar criticamente a Bíblia, isso quando ela não é tomada a priori e sem questionamentos em sentido estrito como a palavra vinda diretamente do próprio Deus, quer dizer, sem outra participação humana que a do "secretário".
A necessidade de estudar a Bíblia para compreendê-la corretamente depreende-se do simples fato de que se trata de um conjunto de escritos que se originaram e foram compostos há muitos séculos e em um ambiente cultural muito diferente do nosso. Isto já se observa na linguagem: os termos, circunlóquios e expressões são de outra época e de outra cultura, como o são muitos dos conceitos e imagens que encontramos nos escritos bíblicos. Ingenuamente, muitos pensam que nossos conceitos e nossa visão ocidental do homem, da natureza, do mundo, de Deus etc., são iguais àqueles dos tempos bíblicos (orientais). Foram precisamente os estudos sobre o mundo da Bíblia os que colocaram a descoberto as grandes diferenças culturais e conceituais. Em síntese, para compreender e interpretar corretamente a Bíblia, é necessário um mínimo de estudo a respeito dela, da mesma maneira que é necessário estar familiarizado por meio do estudo com o mundo de qualquer documento da Antiguidade. Não basta saber ler para poder compreender o que se quis dizer e as razões pelas quais se escreveu naqueles distantes tempos esse texto que lemos ainda hoje. Isso significa que a Bíblia é somente para os estudiosos, ou que sem estudá-la não é possível compreendê-la? Sim e não. Se não sei nada de economia, não entenderei as páginas que se podem ler nos jornais sobre esse tema, ou talvez entenda pouco ou entenderei mal algumas coisas, crendo que as entendo bem. Quanto mais informado eu estiver, melhor poderei compreender. O exemplo mais claro é a leitura do Apocalipse: sem a informação necessária sobre o mundo do autor muitas coisas parecem incompreensíveis ou se entendem erradamente. Por certo, isso não significa que tudo seja incompreensível na Bíblia. De fato, hoje, muita coisa é facilmente compreensível, especialmente quando se trata de vivências e de experiências que são comuns a todo ser humano, parte das vicissitudes da vida, apesar do tempo ou da cultura. Mas é necessário, sim, o estudo da Bíblia, de seu mundo, quando sua compreensão é essencial para a reta interpretação em matéria de doutrina ou de ética, pelas razões expostas. Mas, não é necessário seu estudo, se a Bíblia for lida como meio ou veículo de comunhão com Deus, quer dizer, para a meditação e para a oração em qualquer de suas formas. Ao usar a Bíblia para a oração, a gente não a analisa, mas se deixa guiar, conduzir, inspirar por ela. Em poucas palavras, quando se trata de afirmações conceituais baseadas na Bíblia, especialmente sobre doutrina e moral, mais vale que estejamos bem informados sobre ela, se não quisermos arriscar-nos a nos equivocar. Isso supõe entrar no mundo do estudo como descrevi e como veremos mais amplamente. Quando se trata de usar a Bíblia para o enriquecimento espiritual, não é necessário seu estudo, aliás pode ser até um obstáculo. De um modo ou de outro, vale a advertência de que devemos evitar cair em historicismos e que o que devemos buscar é fundamentalmente a mensagem do texto, e este lido em parágrafos, não em frases soltas.