quarta-feira, 11 de junho de 2014

O CONTEÚDO DA BÍBLIA

A Bíblia contém 73 escritos que estão agrupados em dois "Testamentos", o Antigo e o Novo. Destes, 27 escritos pertencem ao NT, que é literatura nitidamente cristã. O Antigo Testamento é literatura judaica. O termo "testamento" é uma tradução equívoca do original hebraico berit, que significa "aliança", "pacto".
A ordem em que se encontram os escritos da Bíblia não é a ordem em que foram compostos. Gênesis não foi o primeiro a ser escrito, nem o Apocalipse foi o último. Encontram-se ordenados segundo temas e gêneros literários - todos os históricos juntos, os profetas juntos, etc. Exceto o bloco que vai de Gênesis a Reis, a ordem dos escritos do Antigo Testamento pode variar de uma Bíblia para outra. Isto se deve ao fato de que a sequencia é diferente na versão hebraica e na grega (e latina). "Gênesis" (a primeira palavra deste livro, em grego, significa "origem, início"; (em hebraico é bereshit) não era o título do primeiro escrito que encontramos na Bíblia, nem "Evangelho segundo Mateus" era o título do primeiro Evangelho que encontramos no Novo Testamento. Original era somente o texto. Os títulos foram colocados mais tarde por razões práticas, para distinguir um escrito de outro.
Nenhum dos escritos da Bíblia estava originalmente dividido em capítulos e versículos. Os subtítulos que encontramos (e que variam de uma Bíblia a outra) tampouco são originais. Ocasionalmente, são equívocos: a parábola conhecida como "do filho pródigo" (Lc 15,11ss) não se centra no filho, mas no pai misericordioso, portanto, deveria ser intitulada "parábola do pai misericordioso"- além do que a parábola fala também do outro filho que ficou em casa.  Vista do lado de Deus, a Bíblia apresenta a história das ações de Deus na história dos homens, desde as origens até sua expressão definitiva em Jesus Cristo, e projetando-se para o futuro. Vista do lado dos homens, a Bíblia inclui experiências pessoais de muitos indivíduos, seu diálogo com Deus, suas atitudes de obediência ou de infidelidade, suas reflexões e sua sabedoria. Em outras palavras, levando em conta os diversos gêneros literários que encontramos na Bíblia e o fato de que ela abarca mais de um milênio de história, vem a ser a história singular, sempre atual (pois se fazem as mesmas perguntas, e se apresentam as mesmas atitudes humanas) do diálogo entre Deus e os homens, dos chamados de Deus e das sucessivas respostas dos homens. Os diversos personagens encarnam atitudes humanas que frequentemente são representativas e expoentes das pessoas de hoje.
 
O Cânon bíblico
A palavra "cânon" vem do grego; designava uma vara para medir. Por extensão, significava também regra ou norma (cf. 2Cor10,13.15.16; Gl 6,16). Este termo era usado para referir-se aos critérios e às regras literárias ou artísticas, por exemplo. O cristianismo adotou este termo para referir-se à coleção de escritos que considerava inspirados por Deus e que, como conjunto, constituíam a regra ou norma para a fé e para a vida do crente. O termo "cânon" foi usado, então, para designar a coleção de escritos "inspirados" e para sublinhar seu caráter normativo, quer dizer, de regra ou de norma de vida.
 
Diferença entre a Bíblia Católica e a protestante
A diferença entre a Bíblia católica e a protestante gira em torno da lista de livros judaicos pelos quais se regem. Os católicos regem-se pela lista da LXX, que é a mesma que a Vulgata, portanto, incluem como canônicos os sete escritos chamados deuterocanônicos. Este são Tobias, Judite, Sirácida (Eclesiástico), Sabedoria, Baruc e 1 e 2 Macabeus, além dos acréscimos em grego a Ester e a Daniel. Os protestantes regem-se pela lista da Bíblia hebraica, que não inclui os deuterocanônicos. Esta é a diferença substancial entre a Bíblia católica e a protestante. Além disso, tem a questão da tradução, que eles têm uma forma “diferente”, uso de determinadas palavras em algum contexto específico. Também com relação a notas de rodapé, na tradução deles não constam comentários críticos.

O que é a Bíblia?

A palavra "Bíblia" é grega; significa "livros, escritos, documentos (no plural) - o singular é "biblos" ou "biblion". Este substantivo passou tal qual para o latim e daí ao português, como se se referisse a um só livro, no singular. Vemos que o termo mesmo originalmente designava um conjunto de escritos, não apenas um. E isso é correto, pois a Bíblia é um conjunto ou coleção de escritos que para nós estão convenientemente reunidos em uma só encadernação, e por isso costumamos pensar que se trata de um só livro. Mas não foi assim no início.
Na Antiguidade, os diferentes escritos que agora constituem nossa Bíblia eram rolos ou papiros independentes uns dos outros. Quando se lia um "livro", tirava-se somente esse, e não toda a "biblioteca". Quando Jesus foi a Nazaré e entrou na sinagoga, diz Lucas, "lhe entregaram o livro (biblion) do profeta Isaías. Ele o abriu e encontrou a passagem em que estava escrito ... " (4,17). Estas simples observações nos esclarecem algumas realidades: os diferentes escritos foram compostos em diferentes tempos por diferentes pessoas; Nem todos são do mesmo gênero literário: alguns são história, outros são profecia, outros são lírica, outros são carta; ocasionalmente encontramos repetições de temas, às vezes notamos tensões ou incoerências, até mesmo contradições entre um e outro escrito sobre este ou aquele aspecto (devido precisamente ao fato de serem obras independentes). Por razões práticas, com o tempo, foram copiados os grandes rolos em "folhas" menores (papiros ou pergaminhos), eventualmente de ambos os lados, que podiam juntar-se, formando assim uma espécie de livro. Desde relativamente muito cedo, os cristãos optaram pelos códices, quer dizer, pela escrita em folhas soltas escritas em ambos os lados, que permitiam um formato prático e pouco volumoso, sobretudo para o transporte. Isso tornava possível incluir vários escritos em pouco espaço ou em volumes sob uma só encadernação.
A Bíblia é, então, uma coleção (ou biblioteca) de escritos. Para o crente, a Bíblia não é somente uma coleção de escritos, mas é, além disso, a palavra de Deus. As diferentes maneiras de entender a Bíblia dependem diretamente da maneira como se entende sua composição e sua condição de palavra de Deus. Tomando a sério seu caráter literário, reconhecemos que Deus não ditou a Bíblia, mas que ela foi composta por pessoas com uma cultura, mentalidade, interesse, educação, e que viviam em uma situação determinada, que estavam em estreita comunhão com Deus. Vale dizer, do ponto de vista de sua natureza, para o crente, a Bíblia tem "algo" a ver com Deus, que está em sua origem, e isso nós qualificamos com a expressão "palavra de Deus", tomada dos profetas. E se admitirmos a plena participação humana, acrescentaremos a qualificação "em palavras de homens".
Afirmar a origem divina da Bíblia em forma estrita e absoluta, como se tivesse caído do céu ou como se Deus mesmo a tivesse escrito, utilizando certas pessoas como instrumentos seus, e assim negar a dimensão humana, é um indício da incompreensão da natureza da Bíblia. Por outra parte, reconhecer e afirmar a humanidade dos escritos bíblicos não é negar seu caráter divino, mas antes situá-los cabalmente dentro das coordenadas de onde surgiram: a história dos homens. Finalmente, do ponto de vista de seu conteúdo, a Bíblia é um conjunto de escritos que são o produto e o testemunho da vida de um povo (Israel/AT) e de uma comunidade (cristianismo/NT) em diálogo com Deus. São testemunhos de fé dessas pessoas, fé vivida em um mundo real.
Sintetizando o que foi exposto, podemos dizer que a Bíblia:
É um conjunto de escritos (note-se: "escritos", não "livros", pois a Bíblia inclui cartas, por exemplo), que de alguma maneira tem sua origem em Deus: são "palavra de Deus", e cujo conteúdo é constituído por múltiplos testemunhos de fé vivida por diversas pessoas e comunidades em diferentes tempos e diante de distintas circunstâncias.